E por que não?
Vivemos em um período de transição – na arte, na música, na política, na natureza, na vida e no universo…
O formato deste milênio ainda não está definido, será que precisa? A pintura continua caminhando e é atual sempre, como uma pele do artista que produz, em um gesto intenso e muito difícil de realizar, essa “técnica emocional”. A tela pintada fala, surpreende, questiona o olhar e transporta para qualquer lugar do inconsciente e da realidade da mente. A “artepintura” muitas das vezes é orgânica e, também, visceral. Assim, ela permanece com vida ao longo da história da arte.
Isso é o que vamos poder observar nas novas exposições da dotART galeria, em Belo Horizonte. Estamos falando de um encontro de três artistas que utilizam o suporte pintura para realizar suas obras e um outro que utiliza pintura para surpreender o público em suas esculturas com movimento e musicalidade. Acho que o que esses artistas gostam mesmo de fazer é contar histórias, e é para isso que eles fazem essas pinturas, para contar um conto em suas obras…
Acredito que uma característica ainda mais importante desse encontro na dotART é a mutabilidade desses artistas, em transformar-se a cada compasso de pensamento, a cada pincelada, a cada tela realizada. É sempre possível sentir ao admirar suas criações! Estamos falando de uma pintura do tempo, sempre se renovando e sem medo, em uma maneira atual de fazer arte, sem ser datada e, sim, construção eterna. Há um frescor nas criações desses artistas que trabalham a arte sob o ponto de vista da filosofia e da subjetividade, dando ênfase aos sentimentos trazidos da relação do homem com a pintura construída.
Tanto Marina Saleme quanto Álvaro Seixas, Daniel Lannes e Roberto Freitas “falam em suas obras”. São pinturas com personalidade, um toque de estranheza e uma imensa sensação de emoções em cada tela e escultura mostradas aqui, brotando vida quando olhamos para cada uma. Essas criações desses são como um colírio em nossos olhos, despertam boas surpresas e prazer.
Isso é bom!
Wilson Lazaro Acredito sua pintura tem algo de espiritual, faz refletir ao olhar, faz penetrar nas camadas e nuances de tintas, como um mistério, um infinito profundo. Uma obra aberta no sentido que cada pessoa tem uma identificação intima e verdadeira. Isso é pensado ou vivido para realizar essa sua pintura?
Marina Saleme Acredito que a minha obra seja resultado da minha vivencia e meus pensamentos sobre a existência e condição humana. A pintura me propicia refazer no plano pictórico esta vivência, pensamentos e possibilidades- através das camadas, apagamentos, resgates, sobreposições etc.
WL São poucos os artistas que conseguem desdobrar o trabalho, como você consegue. Podem acabar por inventar histórias… pela vontade de ser contemporâneos. Vejo claramente como você é boa pintora e sabe o que está querendo com sua obra. O que você diz sobre essa questão sua dessa verdade com sua criação e a “Arte”?
MS A questão do desdobramento vem do fluxo do trabalho- como se com o “fazer” as ideias fossem se desdobrando, abstraindo, trazendo novas questões da mesma ordem. Fico contente que você veja deste jeito pois o que me faz admirar um artista é a coerência na obra, o fio que liga os trabalhos, é como um trabalho sai do outro, como podemos ver um fio condutor no percurso.
WL Olhando suas obras, eu tenho sempre sensação de uma experiência musical, as vezes uma opera, as vezes um rock, samba. Só acredito, hoje, em um objeto de arte que possua ritmo e poesia em sua criação. Sinto um equilíbrio que derrete com o emocional sempre e faz sonhar! Essa pintura está nos seus sonhos? Será um surrealismo atual? O que acha ou é o meu sonho?
MS Não, esta pintura não vem dos meus sonhos- não que eu saiba- ou; não de uma forma consciente. Acho a obra um produto das minhas observações e inquietações sobre a vida, sobre o tempo e o espaço. Seus fluxos e refluxos. É o resultado destas questões poéticas somadas as questões da estéticas (no sentido filosófico) e formais.
Não vejo na verdade um ritmo musical no meu trabalho – se fosse transmitir uma sensação ou experiência, eu diria mais que fosse uma experiência literária ou uma cena de um filme……