Abrindo a caixa
Vista da exposição,  "Abrindo a caixa"
Vista da exposição,  "Abrindo a caixa"
Vista da exposição,  "Abrindo a caixa"
Vista da exposição,  "Abrindo a caixa"
Lívia Moura Galeria 1 - 1º andar de 25.04.2017 a 24.06.2017
1 2 3 4

Bons ares, ares bons…

Com essa ideia de frescor, o ano começa.

Existem alguns lugares em que a arte é o objeto de interesse principal e vale, por si, a viagem. Alguns buscam reproduzir com arte contemporânea esse antigo espírito, que combina arte como forma especial ao desfrutar o olhar, através do desejo e do belo.

Nas pinturas apresentadas na dotArt galeria, os artistas Felipe Fernandes e Lívia Moura se conectam e transformam a experiência da arte pela vivência do espaço, criando um universo pictórico de poesias e formas.

Vale sonhar!

É uma pintura pensada, construída e realizada sobe uma arquitetura do gesto e da experiência, que não é estática e posiciona o espaço dentro da dimensão do tempo, imprimindo movimento à matéria, um apelo sensorial dessa pintura atual que está sempre incorporada pela cor e pelas formas. A tela é a morada desse gesto em momentos tão intenso, em contextos tão austeros. Delicado ou não, colorido ou não, tudo se resume numa boa e sedutora pintura. Esse é o sentido

Apresentamos na Sala Pensando um trabalho de Vídeo da artista Regina Vater. Green ou o sinal verde para o saque das Américas. Trata-se de uma compilação de imagens criadas a partir de pouco recursos técnicos por se tratar do ano de 1991. Sua produção inclui vídeos, mail-art, livros de artista e poesia visual.

Trabalhos delicados ou não, coloridos ou não, tudo se resume numa boa e sedutora obra. Esse é o sentido!

Quem sabe seja esse o novo sentido que estamos buscando.

Wilson Lazaro

Vista da exposição,  "Abrindo a caixa"
Vista da exposição,  "Abrindo a caixa"
Vista da exposição,  "Abrindo a caixa"
Vista da exposição,  "Abrindo a caixa"
1 2 3 4

Wilson Lazaro Acompanho faz tempo, sua trajetória na arte, lembro quando estive de frente pela primeira vez, num pequeno lugar do bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro, ai só cresceu minha vontade de entrar no seu universo. Mostrei lá no museu, em alguns projetos da Funarte onde fui o curador. Nosso encontro é antigo, porém estamos agora novamente juntos! Com esse percurso todo e que mudou na sua criação hoje?

Lívia Moura Wilson, sinceramente, acho que nada mudou no meu trabalho desde então. O que aconteceu é que ele se tornou mais profundo e complexo. Você sabe, eu não tenho uma linguagem predominante, mas o movimento é sempre o mesmo, seja pintando ou redesenhando a paisagem das relações cotidianas.

 

WL Você está terminando seu mestrado isso está influenciando sua obra agora? No meu ponto de vista, acredito que sua obra sempre foi investigadora e pulsante nas pesquisas feitas por você, não necessita da academia em nada. Explica como é esse resultado nessas pinturas… já que você concluiu que essa pintura foi uma válvula para colocar academia para fora!

LM Sem dúvida. Comecei a expor muito cedo, aos 15 anos, e saí do universo da arte entre 2009 e 2012. Neste período fiz estudos não acadêmicos, que agora estão explodindo no meu trabalho. O mestrado na UFF está me ajudando a organizar e sobretudo simplificar “meus delírios barrocos” (rsrsrs) e minhas estratégias de atuação também.

Mas a pintura está me salvando! (Rsrsrs) O que aconteceu é que eu estava lendo demais para o mestrado, minha cabeça já estava doendo. Eu precisava de algo fluido e intuitivo, que pudesse servir como uma válvula de escape. E por outro lado eu estava morando sozinha cuidando dos meus 2 filhos de 1 e 3 anos. Não tinha tinha muita alternativa, resolvi liberar uma parede da casa para eles pintarem. Eles, né? (Rsrs) A partir de então eu comecei a pintar também, era uma ótima oportunidade para eu me divertir.

No fundo eu sentia muita necessidade de me jogar nesse ato “primitivo” como as crianças se jogam, “sem pensar”, como diz o Manoel de Barros. E então, também comprei uma telinha para eles pintarem e achei incrível a maneira sem medo com que eles misturavam as cores e criavam formas que conversavam com o percurso natural das tintas e dos pigmentos sendo jogados na tela por eles. Foi um turning point para mim pintar com eles! Os primeiros quadros fizemos em coautoria, mas agora que já aprendi bastante com eles e estou usando tintas mais agressivas, estou pintando sozinha. Além de economizar o tempo que eu me dedicava limpando as crianças e a casa depois da farra (rsrs).

 

WL Com esse movimento atual do “feminismo “na arte. Como você se coloca dentro dessas questões, já que universo da arte ainda continua machista e do poder do homem, principalmente no mercado de arte. Você é um exemplo desse novo feminismo na arte, é feminina, é mãe, é artista. Porém não é frágil e nem tem uma obra leve. Como fica sua criação com esse movimento?

LM O meu lugar como mulher atua de forma central tanto no conteúdo quanto na forma dos meus trabalhos. O resgate da terra como elemento, como planeta, como princípio feminino, perpassa toda a minha obra. Sabemos que existem muitos obstáculos reais para as mulheres se inserirem no mercado de trabalho, assim como para todas as outras “minorias”. E por conta disso, a gente tem também que lutar contra um “carcereiro interno”, aquele que destrói nossa estima, que não deixa a gente se colocar de forma segura naquilo que realmente acreditamos.

É um desafio muito grande para todas as mulheres ter sucesso profissional sem ter que copiar o padrão machista de ser. Não quero abdicar de cuidar e educar meus filhos, ser mulher e ser sincera comigo mesma. Nessa exposição estou literalmente abrindo minhas caixas, minhas gaiolas, jorrando vasos por dentro e por fora.

 

WL Numa visita ao seu atelier, você comentou “comecei a pintar com os meus filhos e também quero ganhar dinheiro… “no meu ponto de vista a pintura sempre foi e é o desejo do apreciador de arte. Isso na verdade na sua obra, acredito ser o seu humor para criar…

LM Eu sempre soube que a pintura vendia bem. Sempre achei um caminho fácil demais e por isso meio cafona (rsrs). Foram os filhos que me trouxeram de volta para os trilhos, na marra. Agora que tenho tantas contas para pagar, não estou achando nada cafona vender minhas pinturas! (rsrs).

 

WL Uma boa obra de arte sempre tem que ter poesia, ritmo. Isso você consegue muito bem! Finaliza como você vai conduzir e criar um conjunto de obras, onde passeia pela pintura, desenho, vídeo, fotografia, instalação e performance no futuro, já que sinto que você sempre está falando de uma memoria do futuro, onde tudo só faz sentido quando passa pelo seu olhar ou sua caixa de pandora! isso é bem estruturado?

LM Venho recolhendo há um bom tempo argilas de diversas cores – ocre, vermelha, rosa, branca, azul – e agora estou usando elas nas minhas pinturas. Venho utilizando a terra em diversas linguagens, como performances, rituais e cerâmicas. Sempre num resgate primário, de retorno a esse chão que nos sustenta e constitui. O mestrado tem tudo a ver com isso, tem muita coisa por vir na minha obra e as pinturas fazem parte desses meus rituais de resgates da Terra.

Como você sabe, meu trabalho é um organismo camaleônico, que cria uma costura entre o corpo, a família, o meio ambiente e a sociedade. Estou interessada em criar rituais para abrirmos nossas caixas, para deixar que Pandora, a mulher biosfera se alastre de modo corrosivo e criador.